Era de Aquarius ou mera ilusão?

Juarez Duarte Bomfim.
Juarez Duarte Bomfim.

Barraqueiro e poeta Luciano Ferreira: “A beleza natural é infinita, mas cabe à beleza poética fazer a junção entre a natureza e o humano” — ou o que é que isso signifique.

Na noite de terça-feira, 25 de maio de 2010, Luciano comemoraria o seu sexagenário.

(Ele mesmo, Luciano Serva Ferreira, economista de profissão e barraqueiro de vocação. Almirante das Areias do Mar de Pituaçu)

Porém, cedo pela manhã, telefona pressurosamente para este que vos escreve, e proclama a derrubada anunciada da sua barraca de praia. Antecipar-se-ia à sanha demolidora da municipalidade, escudada na atual judicialização das questões de interesse coletivo no país.

Luciano tinha a esperança de aproveitar parte do caro material construtivo da sua república praieira, república de sonhos.

Não foi um desanimado e triste Luciano Ferreira que me chamou pela manhã cedo. Muito pelo contrário, foi um sensível poeta que, frente à destruição barracal eminente, ainda teve tempo de budicamente mirar a linha do horizonte, e versejar: “A beleza natural é infinita, mas cabe à beleza poética fazer a junção entre a natureza e o humano” — ou o que é que isso signifique.

Gentil, mas imperativo, ele nos convocou:

– Escreva aí! E repetiu a pérola: “a beleza natural etc etc… fazer a junção… etc etc etc…”

Timidamente repliquei ao prócer dos Ferreira:

– Não tenho tão inspirada verve poética…

Respondeu:

– Não importa, pegue papel e caneta. Copie. É você o escrevinhador.

A queda da república lucianística não se deu sem protestos: blogueiros boêmios e boêmios blogueiros de toda a Bahia se levantaram, organizando uma resistência literária. O temido panfletário jornalista Oldack Miranda considerou a “demolição odiosa, arbitrária, anti-popular e estranha” – lembrando os saudosos tempos de adjetivação do combate à Ditadura.

O publicitário e jornalista Diogo Tavares relembra a disputa por um pedaço de areia no Oriente Médio ao bradar: “se os palestinos não desistiram até hoje, não vão ser os cidadãos da República da Barraca do Luciano que vão se dar por vencidos”…

Este que vos tecla, recebeu mensagens de protestos da distante e rica municipalidade de Santa Mônica, na Califórnia, postada por uma jovem e elegante senhora, habitué de verão daquele pranteado espaço, que se declarou desde já em orfandade.

Será o fim de uma época? A confirmação do final dos tempos, vaticinado pelo Calendário Maia? O Armageddon? Era de aquarius ou mera ilusão?

Não sabemos. Não perguntem por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.

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Sobre Juarez Duarte Bomfim 726 artigos
Baiano de Salvador, Juarez Duarte Bomfim é sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Tem trabalhos publicados no campo da Sociologia, Ciência Política, Teoria das Organizações e Geografia Humana. Diversas outras publicações também sobre religiosidade e espiritualidade. Suas aventuras poético-literárias são divulgadas no Blog abrigado no Jornal Grande Bahia. E-mail para contato: juarezbomfim@uol.com.br.

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