Diferenças entre os países podem levar a conflitos internos no BRIC

O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, o presidente Lula, o presidente da China, Hu Jintao, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, posam para a foto oficial durante a 2ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do BRIC, ocorrida em 16 de abril de 2010.
O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, o presidente Lula, o presidente da China, Hu Jintao, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, posam para a foto oficial durante a 2ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do BRIC, ocorrida em 16 de abril de 2010.

Os países do Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – se reuniram pela primeira vez em junho de 2009, na cidade russa de Ecaterimburgo. Desde então, os quatro emergentes vêm se encontrando regularmente, e sua marcante sigla já é vista como uma força político-econômica de peso.

Nesta quinta-feira (14/04/2011), os chefes de Estado do Bric têm reunião marcada em Sanya, no sul da China. Pela primeira vez, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, também estará presente, pois seu país aspira ao ingresso no clube dos mais promissores países emergentes. E assim o Bric se transformará em “Brics”.

Diferenças maquiadas

Como em conferências anteriores, o grupo enfatizará seus pontos fortes e os aspectos em comum. Na realidade, contudo, as quatro nações são marcadas por trajetórias diversas, contrapõe Tobias Geyer, especialista em mercados emergentes do fundo de investimentos Ökoworld. O único denominador comum são as respeitáveis taxas de crescimento e o fato de serem nações relativamente grandes.

Claro que há outros emergentes com taxas de crescimento tão pronunciadas quanto as do Bric e com perfis demográficos talvez ainda mais positivos. “Mas, do ponto de vista do tamanho, os outros não são tão interessantes”, comenta Geyer, falando à Deutsche Welle.

Cerca de 40% da população do planeta vive nos países do Bric. Em conjunto, eles são responsáveis por quase um quarto do desempenho econômico mundial e cresceram, em 2010, entre 4% (Rússia) e 10% (China). Entretando, apesar desses fatores em comum, é grande o número de diferenças entre eles, levando a duvidar de uma suposta trajetória comum de sucesso.

“O Brasil e a Rússia dependem muito mais de exportações de matérias-primas do que a Índia e a China, que são até dependentes da importação de matérias-primas”, aponta Markus Jäger, analista do Deutsche Bank Research. E a China cresce, sobretudo, graças às exportações de artigos industriais, enquanto na Índia o crescimento é impulsionado em geral pelo mercado interno.

Demografia e intervenção estatal

A Rússia é a que menos se encaixa no grupo. Apesar de ostentar a maior renda per capita, muitos analistas consideram o país em ocaso, enquanto os demais Bric vão ampliando o próprio potencial de poder.

Geyer compartilha essa opinião, embora faça uma ressalva: “É preciso relativizar, diante dos atuais preços do petróleo. Entre os países do Bric, quem mais lucra com isso é a Rússia”.

Por sua vez, Jäger aponta mais uma desvantagem russa: o desenvolvimento demográfico negativo. Há um grande número de idosos dependentes do Estado, porém insuficientes jovens para gerar valor econômico. Um problema que a China também pode vir a enfrentar, devido à política que incentiva só uma criança por casal.

No Brasil e na Índia, em contrapartida, cresce uma classe média que não apenas produz, como também consome em grande escala, assegurando assim a demanda interna.

Nos quatro países a política tem por hábito interferir em questões econômicas. No entanto, Pequim e Moscou controlam bem mais do que Brasília ou Nova Delhi. Na China, os maiores bancos e indústrias pertencem ao Estado. Na Rússia, ele controla sobretudo a importante indústria petroleira, detendo mais de 70% do conglomerado Rosneft.

Conflito monetário

Todas essas diferenças não ficam sem consequências, afirma Jäger, do Deutsche Bank Research. “Os países do Bric divulgam comunicados afirmando que concordam em muitos aspectos. Mas também há uma quantidade de pontos de atrito de natureza econômica entre eles.”

Um exemplo: as exportações brasileiras se ressentem no momento do real relativamente forte, cuja cotação em relação ao dólar norte-americano duplicou nos últimos oito anos. Enquanto isso, a China mantém sua moeda em baixa por meios artificiais, acusa o Brasil.

Esse conflito monetário já levou até mesmo a Brasil a se distanciar do clube nessa questão, buscando contato com o mais importante adversário do Bric: os Estados Unidos. Assim, não é de espantar o anúncio de Pequim, antecedendo o encontro em Sanya, de que se recusaria a discutir assuntos monetários.

Presente de grego?

Tais conflitos tendem a se acirrar no futuro, quando a África do Sul pertencer oficialmente ao clube dos emergentes, pois o país difere ainda mais dos outros quatro. Seu crescimento econômico é inferior ao russo, limitando-se a 3% ao ano; com 50 milhões de habitantes, ela não passa de uma anã se comparada aos demais países.

Há indicadores de que, ao integrar a África do Sul, os membros do Bric visam menos o país em si do que o continente africano como um todo. Quer para saciar seu enorme apetite por matérias-primas – o caso da China –, quer para também lucrar com a extração desses recursos – o que se aplica ao Brasil.

E é justamente isso o que deixa tantos sul-africanos desconfiados. Até mesmo o vice-ministro de Desenvolvimento Econômico, Enoch Godongwana, mostrou-se cético: para ele, ainda não está claro se o comprometimento com o Bric “serve aos interesses da África do Sul ou os prejudica”.

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