Com o título ‘Mensagens indicam atuação de Wagner por empreiteiros’, reportagem de Daniel Carvalho e Beatriz Bulla, publicada hoje (07/01/2016) no jornal O Estado de S. Paulo (Estadão) revela que diálogos obtidos no âmbito do caso Lava Jato – resultado de troca de mensagens telefônicas – indicam atuação do ex-governador (2011-2015) e atual ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, em favor da liberação de recursos federais para a OAS, obtendo como resultado apoio financeiro para as eleições municipais de 2012.
O conteúdo das mensagens entre os prepostos da construtora OAS José Adelmário Pinheiro Filho (Léo Pinheiro) e Manuel Ribeiro Filho, e então governador Jaques Wagner – trocadas entre agosto de 2012 e outubro de 2014 – evidenciam que ocorreram negociações com a OAS, com a finalidade de liberar recursos para a campanha eleitoral de 2012, em que Nelson Pelegrino (Deputado Federal – PT/BA) disputava a eleição para prefeito da capital baiana contra ACM Neto (DEM, conhecido como “Grampinho”), e Mário Kertész (MK, na época PMDB).
Curiosamente, no segundo-turno da eleição, Mário Kertész rompe com a executiva do PMDB e apoia Nelson Pelegrino. A ala do PMDB liderada pelos irmãos Vieira – Lúcio e Geddel – manteve o apoio a ACM Neto (vitorioso no pleito).
Observa-se que a troca de mensagens entre os personagens do Caso Lava Jato, e os fatos de conhecimento público sobre as eleições municipais de 2012 em Salvador, induz a acreditar que o apoio de Mário Kertész custou, inicialmente, R$ 5 milhões. Mas, que após negociações, o valor foi reduzido para R$ 1.5 milhão, com pagamento em duas parcelas, a primeira de R$ 500 mil, e a segunda de R$ 1 milhão.
Confira trecho dos diálogos interceptados pelos investigadores
Em 17/10/2012
Situação: Pinheiro fala com fundador da OAS sobre apoio no 2.º turno da eleição para a prefeitura de Salvador. A conversa cifrada faz menções a valores para pagar campanhas.
Léo Pinheiro: O Compositor (Jaques Wagner) me ligou ontem, disse-lhe que estava fora e que MR iria procurá-lo x MK (Mário Kertész, candidato do PMDB à prefeitura de Salvador em 2012) (saldo). Se resolveríamos parte como nosso apoio ao Andarilho (Nelson Pellegrino, candidato petista à prefeitura de Salvador em 2012) ou qual seria a solução?
Léo Pinheiro:
O valor é muito alto. 3.600 Street Brown
Em 18/10/2012
Situação: Conversa entre executivos da OAS aponta negociações com Jaques Wagner sobre volume de doações para campanha
Manuel Ribeiro Filho: Léo, vou estar com o compositor (Jaques Wagner) às 18. Ele adiou de 14 para 18. Algum conselho especial?
Manuel Ribeiro Filho: Amigos, estive com o figura. Ele falará com MK para deixar depois do evento. Disse que o valor não é real e não pediria para o Leo se soubesse o tamanho. Vai baixar e dividir.
Léo Pinheiro: Ok. Salvador acho que devemos dar +1.
Manuel Ribeiro Filho:
A pedida foi +5, me fingi de surdo, depois 2 e acabamos no 1,5. 0,5 agora, deixando +1 para o final. VC ele disse que EV falando com o povo de lá disse que podia ser +0,5. Disse que não havia estimativa e não havia qualquer interesse, exceto atendê-lo. Mas forçou a barra mesmo e fui obrigado a chegar a +0,4.
Léo Pinheiro:
Ok, tinha lhe mandando antes de lhe falar. 1,5 + 0,4.
Em 21/10/2012
Situação: A cinco dias do 2.º turno das eleições presidenciais, Pinheiro pede a Wagner para intermediar liberação de recursos dos Transportes
Léo Pinheiro para Jaques Wagner:
Governador, Se for possível, peço seu apoio. Abs.
Varjão:
“Léo, é importante que o nosso Gov. JW (Jaques Wagner) fale com o Min. dos Transportes Paulo Sergio para liberar recurso no valor de R$ 41.760 milhões, referente a ressarcimento d convênio TT 026/2008 da Via expressa, objeto o ofício 021/2013/GG assinado por ele em 10/10 de 2013.”
Jaques Wagner:
Ok, vou fazê-lo abs domingos vamos ganhar com certeza.
Léo Pinheiro para César Mata Pires Filho:
Já falei com JW (Jaques Wagner). Vai ligar para o PS. Bjs
Condenação
A partir das investigações do Caso Lava Jato, o ex-executivo do OAS José Adelmário Pinheiro Filho (Léo Pinheiro) foi condenado a 16 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema desenvolvido dentro da Petrobras.
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