Exclusiva: jornalista Sidney Rezende comenta sobre Governo Temer, crise econômica, Caso Lava Jato e posicionamento editorial: “Globo poderá pagar um preço caro perdendo audiência”

Sidney Rezende.
Sidney Rezende: a Globo poderá pagar um preço caro perdendo a audiência, perdendo receita e perdendo espaço para outros meios e outras plataformas, que já está acontecendo. A internet só cresce e, a Globo em comparação a ela diminui.

Durante ‘Encontro de Líderes’ promovido Clube do Seguro de Feira de Santana, na sexta-feira (21/07/2017), o jornalista Sidney Rezende concedeu entrevista exclusiva ao editor do Jornal Grande Bahia, Carlos Augusto. Na oportunidade, acompanhou a entrevista o radialista Edvaldo Peixoto, repórter da Rádio Subaé.

A entrevista aborda a conjuntura política e o governo Michel Temer; aumento dos impostos; deflação; posição editorial da Rede Globo no tocante ao governo Temer; vínculo histórico da Rede Globo com o autoritarismo; possibilidade de novo golpe militar; condução do processo e o julgamento do ex-presidente Lula, atuação do juiz Sérgio Moro, dos membros do Ministério Público Federal (MPF), e o processo de vazamento seletivo de informações.

Sidney Rezende conclui a entrevista analisando os eventos que levaram a usurpação do mandato popular da presidente Dilma Rousseff (PT/RS), a assunção do Governo Temer; e as perspectivas de retomada do crescimento econômico, com geração de emprego.

Confira a entrevista

Jornal Grande Bahia — Como analisa a conjuntura política e o governo Michel Temer?

Sidney Rezende — O governo Michel Temer agora está vivendo uma encruzilhada, mas não será a única de agora até o fim do ano [2017], porque a Procuradoria-Geral da República promete além desta ação, que vai ser agora votada no plenário da Câmara dos Deputados, outras duas representações.

Eu acredito que nós tenhamos o seguinte quadro, apesar de todos os problemas eu acho que o Temer reunirá o número de votos suficientes para que ele permaneça no poder. Portanto, ele continuaria, na minha análise. Se eu estiver errado, pela constituição, assume o Rodrigo Maia, e aí o Rodrigo Maia me parece que fará um governo mais moderado, conversando mais com a esquerda, um governo menos beligerante, vai acelerar menos as reformas, ele vai tentar levar um pouco, me desculpa a expressão, mais em banho-maria.

Mas, vamos imaginar que eu esteja certo, que o Temer ultrapasse esse obstáculo e vá para o segundo embate, virá uma segunda crise, porque a outra investigação é sobre obstrução de justiça, e aí é mais difícil ele escapar.

Mas, o país já começa a viver sem o Temer, as pessoas estão de saco cheio de políticos e dessas políticas repetitivas, de denúncias de roubo, ninguém aguenta mais. Por isso, há uma desesperança, há um sentimento da população de cansaço, a população está se sentindo assim desprotegida, não está confiando em ninguém.

Mas, erra quem pensa que a população não está querendo nada com política, não, ela está calada, as pessoas vão reagir na hora certa e a princípio será na eleição de 2018.

Nós teremos uma surpresa muito grande na próxima eleição. Ou seja, quem conseguir demonstrar que é sério, que tem uma possibilidade de mudança real na sociedade, quem conseguir convencer a população nisso, pode ganhar até no primeiro turno da eleição de 2018.

JGB — O Governo Temer anunciou aumento de taxas, que incidem diretamente no setor de petróleo e gás. Como analisa esse aumento na conjuntura econômica nacional?

Sidney Rezende — É péssimo para todos nós, porque onerará um peso muito grande em nosso bolso, na medida em quem tem carro de passeio vai ter que pagar gasolina mais cara; enquanto o diesel — a gente precisa ficar muito ciente que o Brasil, hoje, é o Brasil sobre quatro rodas — ele precisa para poder que as cargas cheguem ao seu destino, os alimentos, de ter mais tranquilidade e não ter peso e mais impostos. Então no primeiro momento isso é ruim. Por que o governo faz isso, porque o governo já sabe que não conseguirá bater a sua meta fiscal, então no momento você precisa ter caixa. É como se você dissesse o seguinte: olha, se eu não aumentar aqui o preço do meu produto, eu não vou ter mais condições de pagar as minhas contas em lá setembro, outubro, novembro, então preciso fazer aqui uma mudança rápida. Coitado é do consumidor, coitado é do usuário.

Rádio Subaé — Recentemente anunciaram uma deflação. É mito ou verdade essa deflação?

Sidney Rezende — Eu acho que é mais mito do que verdade. Eu não estou questionando a existência dela, o que eu estou questionando é a eficácia que você possa dar politicamente a isso dizendo assim: é um governo que está nos trilhos, resolvemos a inflação, o governo anterior não conseguiu, mas nós conseguimos.

Por que isso? Porque o alto índice de desemprego, no mínimo, oficialmente 15 milhões de brasileiros, pode ser que oficialmente seja até mais do que isso, porque tem o subemprego, tem a precariedade financeira, faz com que as pessoas queiram comprar as coisas, mas não tenham dinheiro.

Então, você pode ter um quadro ás vezes de uma inflação aparentemente reduzida, simplesmente porque você se menos procura do que deveria porque a pessoa não tem dinheiro. Não é que ela não queira, ela quer comprar as coisas, ela quer comprar o seu apartamento, ela quer ser consumidora, mas ela não sabe nem se vai ter emprego. E quando ela não tem, amigo, o desespero dela é dobrado.

JGB — Como analisa a posição editorial da Rede Globo no tocante ao governo Temer?

Sidney Rezende — Eu tenho muitas críticas, não é só à Rede Globo, a todos os meios de comunicação que esquecem da isenção. O que é isenção? Se umas coisa está funcionando e ela é boa, ela deve ser dita desta forma: está funcionando e é boa. Se uma coisa não está funcionando e é ruim, ela deve ser encarada dessa forma: não está funcionando e isso é muito ruim.

O que está acontecendo hoje é que dá a impressão de que os meios de comunicação elegem o seguinte: se esse governo é generoso comigo nas verbas publicitárias, ou se esse governo é favorável às minhas ideias, terá o meu apoio. Se não, pau neles, vamos derrubar. Isso é muito ruim, porque confunde as coisas, meio de comunicação não é partido político, meio de comunicação não existe para defender os interesses empresariais tão somente.

Na verdade, os veículos de comunicação, inclusive a Globo, tem uma obrigação. Primeira obrigação dela é informar de maneira idônea e isenta, correta, sincera e verdadeira para que aquele que receba aquela informação tome a melhor decisão. E a segunda, não defender os seus interesses primeiro antes dos interesses do país. Aí para que existiria uma concessão pública se você tem lá dirigentes que só pensam em si próprios?

JGB — Como analisa o vínculo histórico da Rede Globo com o autoritarismo e que reflexos isso tem na linha editorial do grupo de comunicação?

Sidney Rezende — A própria Globo já admitiu que durante o governo militar ela errou. Então, ela própria já admite que foi por um caminho que não deveria ir.

Ela não fez ainda nenhuma reprimenda, nenhuma correção à sua postura atual. Mas o que é interessante é o seguinte, por conta das redes sociais, da internet como um todo e da chegada de uma nova geração, entre 16 anos, que já é o primeiro voto, até 25 anos, até 30 anos de idade, essa geração está começando a pegar o país nas mãos, está querendo um outro país, com um outro destino. Isso significa que essas pessoas não querem mais esse tipo de comportamento errado.

Consequentemente, a Globo poderá pagar um preço caro perdendo a audiência, perdendo receita e perdendo espaço para outros meios e outras plataformas, que já está acontecendo. A internet só cresce e, a Globo em comparação a ela diminui.

Rádio Subaé — Você acredita na possibilidade de um novo golpe militar?

Sidney Rezende — Não acredito. Porque os militares hoje, pelo menos o comandante que é o comandante Eduardo Villas Bôas, que é o responsável pelo Exército, já deu até declaração pública sobre isso, os demais comandantes, as outras forças também. Os militares estão muito ciosos, muito respeitosos da constituição brasileira. Sinceramente, eu acredito que não.

Agora entenda, se nós tivermos em um quadro de convulsão social, de briga nas ruas, de explosões, de bombas, de gente armada, de um início de um eventual conflito entre pessoas, que seria o esboço de uma guerra civil, você não tenha a menor dúvida de que as Forças Armadas entrarão. Hoje, eu não acredito, acho que elas vão afiançar de uma forma constitucional e muito importante a democracia brasileira na eleição em 2018.

JGB — Como analisa a condução do processo e o julgamento realizado pelo magistrado Sérgio Moro com relação ao ex-presidente Lula?

Sidney Rezende — A Operação Lava Jato trouxe uma contribuição muito importante como um todo para a gente saber o que muita gente suspeitava, mas não tinha certeza.

Se dizia assim: fulano está roubando muito, se rouba muito aí na vida pública, não sei quem enriqueceu e enriqueceu de uma forma estranha. Como ele conseguiu ter casa, avião, 15 mil carros, ter uma aparente vida de rico e eu não. Se nós fazemos mais ou menos as mesmas coisas ou se nós temos a mesma idade. Havia essa suspeita e a A Operação Lava Jato trouxe essa contribuição.

Em relação, especificamente, ao presidente Lula, o juiz Moro e a justiça brasileira, e o Ministério Público Federal estão devendo. Estão devendo um equilíbrio, porque você não vê a mesma postura em relação ao PSDB. Você não vê a mesma postura em relação a outros políticos igualmente flagrados com suspeitas de desvios de conduta.

Como a Operação Lava Jato não terminou, vamos ter que aguardar ainda. Mas, já há uma série de vazamentos altamente condenáveis que prejudicaram o ex-presidente Lula e prejudicaram outras pessoas também e isso deve ser combatido.

O problema do vazamento é que antes de ter o julgamento de alguém está vazando informações como se ela fosse culpada. Não estou dizendo que o presidente Lula é ou não é culpado, estou dizendo o risco do vazamento. E isso, infelizmente, aconteceu, e aconteceu em muitos casos, inclusive na jurisdição do juiz Sérgio Moro.

JGB — Diante dos episódios que levaram a tomada do poder da presidente Dilma Rousseff, uma pergunta afirmativa: foi um golpe, foi um processo legítimo, qual a avaliação do jornalista Sidney Rezende daqueles episódios históricos que levaram a assunção do governo Temer e de um governo que tem uma proposta extremamente conservadora em relação a proposta progressista que representava o governo Rousseff?

Sidney Rezende — A grande verdade é que aquele processo foi um processo artificial, um processo parlamentar, basicamente. Por mais que se diga que ocorreu participação de setores da mídia, setores do poder judiciário.

Todo governo tem satisfação e insatisfações em todas as áreas. Então poderia se dizer sobre qualquer governo passado que existiriam essas insatisfações e satisfações em todos os segmentos. Então não vejo problemas você discordar de um governo, ou do governante e das suas políticas, o que ocorre ali, que não se julgou, o parlamento não teve esse cuidado do que realmente estava sendo objeto da suspeita da acusação. Ali se votou, como nós vimos, voto pelo meu filho, voto pela minha filha, então ele não vota pelo que diz a denúncia, ele votou pelas pessoas que são próximas e queridas a ele e por isso ele achou que valeria a pena ou permanecer ou tirar a presidente Dilma do poder.

Sem dúvida, o que nós vimos ali [no julgamento da presidente Dilma Rousseff] foi um quadro artificial, que a gente pode dizer que houve um golpe parlamentar, não tem a menor dúvida, e a história mostrará isso brevemente.

Rádio Subaé — Como você vê a expectativa de crescimento do país? Como é que vamos gerar 14 milhões de empregos?

Sidney Rezende — Nós não sairemos do atoleiro sem eleição presidencial legítima, não tem jeito. Acho que nós teremos um quadro no final deste ano [2017], já em meados do ano que vem, melhor do que nós já tivemos nesse ano que passou, a economia vai dar melhores respostas, mas não ainda o suficiente para gerar empregos e tapar esse rombo, esse buraco lamentável e triste de 15 milhões de desempregados. Isso aí é realmente assustador.

Eu acredito que somente depois de uma eleição direta, com novo presidente, ou uma mulher que seja ou homem, não sabemos quem vai ser, não importa o sexo aí, importa é que tenhamos um presidente legítimo, se for eleito com maneira convincente pela população, sem dúvida terá grande oportunidade de avançar a democracia no Brasil e superar esse problema. Sem eleição direta não tem solução de crise econômica.

Perfil do entrevistado

Sidney Rezende (Campo Grande, 31 de outubro de 1958) é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, começou a trabalhar como repórter em 1985, na Rádio Roquette Pinto. No mesmo ano, acumulou as funções de apurador da TV Manchete e repórter da TV Educativa. No ano seguinte, por um breve período, torna-se redator de chamadas publicitárias da TV Globo. Um ano depois lançou o livro Ideário de Glauber Rocha, pela editora Philobiblion, da Civilização Brasileira.

Em 1987, Sidney Rezende estreou na Rádio Jornal do Brasil como apresentador do programa Encontro com a Imprensa, onde entrevista as personalidades mais importantes da política e da cultura do país. Simultaneamente, trabalhou como repórter do jornal Tribuna da Imprensa e pauteiro da Rádio MEC. Um ano depois, recebe o prêmio Golfinho de Ouro, de melhor jornalista de rádio do ano. Atualmente dedica-se ao portal SRZD, fundado por ele próprio.

Jornalistas Carlos Augusto e Sidney Rezende, e o radialista Edvaldo Peixoto. Entrevista abordou cenário político e econômico do Brasil.
Jornalistas Carlos Augusto e Sidney Rezende, e o radialista Edvaldo Peixoto. Entrevista abordou cenário político e econômico do Brasil.
Sidney Rezende: sem eleição direta não tem solução de crise econômica.
Sidney Rezende: sem eleição direta não tem solução de crise econômica.

Confira áudio

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Sobre Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia 10809 artigos
Carlos Augusto é Mestre em Ciências Sociais, na área de concentração da cultura, desigualdades e desenvolvimento, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Ensino Superior da Cidade de Feira de Santana (FAESF/UNEF) e Ex-aluno Especial do Programa de Doutorado em Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como jornalista e cientista social, é filiado à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ, Reg. Nº 14.405), Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ, Reg. Nº 4.518) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI Bahia), dirige e edita o Jornal Grande Bahia (JGB), além de atuar como venerável mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Maçônica ∴ Cavaleiros de York.