21 de julho de 2016, um almoço que reunia, na época, um senhor de 91 anos, ex-militante e fundador do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), na Bahia, lúcido, com milhares de histórias para contar, o médico e escritor Carlos Alberto Kruschewsky estava acompanhado do filho Carlos Kruschewsky. O cenário da prodigiosa conversa foi o Restaurante Veleiro, situado no Yatch Clube da Bahia, em Salvador, que separava por uma parede de vidro transparente a bela vista da Baía de Todos os Santos.
O dia estava ameno, com águas espraiadas, barcos de pescadores ao fundo completavam o cenário, onde pai e filho, sentados lado a lado, compartilhavam histórias, vivencias, discorrendo sobre os anos como se fossem segundos.
Liderava o encontro, com sorriso afável, o jovem senhor Dr. Carlos Kruschewsky, fazendo algo mágico, levando o tempo à suspensão, porque o diálogo oscilava entre a infância que havia passado na cidade de Cipó, os estudos e a militância de esquerda na faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o apreço pela religiosidade católica e os encontros com Monsenhor Gaspar Sadoc da Natividade, para elaboração da obra ‘De mãos juntas’.
Ele contou, também, mas reservando os nomes, casos curiosos de pacientes que tinha atendido, inclusive o mais célebre deles e sorrisos preencheram o ambiente.
O filho, pessoa de notável saber, ouvia com parcimônia e silêncio o amado pai discorrer sobre tantas histórias.
Os instantes eram superados com novos diálogos sobre a vida. Mas, o tempo, aquele que tudo consome, foi esquecido, porque Carlos Kruschewsky embevecia os expectadores com sabedoria e ensinamento sobre a vida.
Foi uma tarde de profícua dialética.
Na época, ele confidenciou que estava fazendo um profundo estudo sobre a transcendência da vida e de como as várias religiões abordam a morte. Discorreu sobre o documentário ‘A História de Deus’, apresentado pelo ator e diretor estadunidense Morgan Freeman e abordou aspectos dos ritos de transcendência das religiões orientais. Foi um momento de imanência da perenidade do espírito.
Por fim, o que deveria ser o motivo principal do encontro se tornou secundário, diante da oportunidade de apreender a apreender, de ouvir sobre como viver a vida, de conhecer o outro, pelas próprias palavras.
Dr. Carlos Kruschewsky concluiu a reunião narrando sobre a produção da obra ‘O teorema de Arquimedes’ que foi lançada no dia 10 de novembro de 2016, em Feira de Santana. O livro aborda assuntos de história, teologia, psiquiatria, psicologia, arte e homossexualismo. Realidade e ficção se misturam com as inúmeras experiências do autor, que utiliza da prosa para envolver o leitor.
Hoje, 26 de julho de 2019, Carlos Alberto Kruschewsky se despede da materialidade para o plano metafísico, em direção ao Oriente Eterno.
Para os que tiveram a oportunidade de vivenciar a vida e sorrir ao lado dele fica a imensa saudade e a certeza que o reencontro é breve, porque a vida é fugaz, efêmera, um istmo, centelha do universo.
Até breve, brilhante amigo.
Carlos Augusto, cientista social e jornalista.