Para condenar ex-presidente Lula, procurador da República Deltan Dallagnol defende “pensar fora da caixa”; Evidências apontam para escalada criminosa no interior do MPF

Sabendo que não tinha provas, procurador da Lava Jato diz ser necessário “pensar fora da caixa” para apresentar Lula como centro de uma organização criminosa.
Sabendo que não tinha provas, procurador da Lava Jato diz ser necessário “pensar fora da caixa” para apresentar Lula como centro de uma organização criminosa.

Em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (09/03/2021), a defesa de Lula apresenta um áudio inédito que reforça a certeza de que a Lava Jato sabia não ter provas contra o ex-presidente. Na gravação, ainda sem data determinada, o procurador Deltan Dallagnol pede para que um colega mantenha “o coração aberto para pensar fora da caixa”.

“Queria que você olhasse com boa vontade tá, com boa vontade tá, não pra afirmar posição, questão de interesse mesmo, é, ele acha, olhando aquilo e olhando o que você já colocara na peça, que não muda nada de perspectiva, de chances ou de riscos em relação ao que já tá na peça quando fala que ele (Lula) era conexão entre, entre todos. Então dá uma avaliada com essa perspectiva, dá uma pensada, pensa com a cabeça aberta e mantém o coração aberto pra pensar fora da caixa quando a gente conversar”, diz Dallagnol em um trecho do áudio.

Como explicam os advogados na peça, encaminhada ao ministro Ricardo Lewandowski, era necessário “pensar fora da caixa” porque, se fossem atuar de acordo com as regras, os procuradores teriam de desistir das acusações contra Lula.

“O material analisado reforça que a ‘lava jato’ sempre teve presente que as denúncias contra o Reclamante (Lula) eram ‘capengas’ e baseadas em delações vazias”, escrevem. “Ou seja, tanto o procurador da República Deltan Dallagnol como os demais membros da ‘lava jato’ sabiam que dentro da ortodoxia que deveria nortear a atuação de membros do MPF, não havia qualquer evidência em desfavor do Reclamante, muito menos para indicar que ‘ELE ERA A CONEXÃO ENTRE TODOS’”, completam (leia a íntegra abaixo).

Pressão de Moro

O pedido de Dallagnol, como se sabe, acabou sendo aceito. Pensando “fora da caixa”, “com o coração aberto” e por “questão de interesse mesmo”, a Lava Jato acabou apresentando Lula como chefe de uma organização criminosa inventada em um espetáculo transmitido pela tevê, em setembro de 2016, na qual um vergonhoso Power Point mostrava o nome de Lula no centro com uma série de setas apontando para ele. E, na denúncia apresentada, os procuradores escreveram: Nesse esquema criminoso, Lula dominava toda a estrutura por ele montada, com plenos poderes para decidir sobre sua prática, interrupção e circunstâncias”.

Como lembra a defesa de Lula no documento, mensagens anteriores mostraram que os procuradores sabiam que suas acusações no caso do tríplex eram “capengas” (termo utilizado por eles mesmos). Eles chegaram até mesmo a planejar esconder da defesa provas de que D. Marisa Letícia desistiu de comprar o apartamento no Guarujá (SP), uma vez que esse fato aniquila toda a tese da Lava Jato.

Além disso, Sergio Moro, que atuava não como juiz, mas como uma espécie de técnico da Lava Jato, cobrava, desde fevereiro de 2016 (sete meses antes da apresentação do Power Point), a apresentação de uma denúncia “consistente” contra Lula.

Dessa forma, a defesa de Lula consegue provar, com a análise das mensagens de celular apreendidas na Operação Spoofing, da Polícia Federal, que a Lava Jato agiu como um partido político que queria alterar os rumos eleitorais do país (leia aqui como a Lava Jato atuou de forma político-partidária) e, para isso, precisavam condenar Lula à prisão, o que fizeram sem nenhuma prova.

Concluem os advogados de Lula: “Ou seja, o ‘pensar fora da caixa’ consistia, em verdade, em apresentar denúncias inortodoxas contra os adversários previamente eleitos pela ‘lava jato’, enquanto seus membros, como já demonstrado, estavam participando de grupos com atuação político-partidárias e atuando na seleção e no financiamento de um verdadeiro projeto político”.

Operação Spoofing revela Sindicato do Crime

Mensagens apreendidas pela Polícia Federal (PF) durante deflagração da Operação Spoofing, ocorrida em 23 de julho de 2019, com o objetivo de investigar as invasões às contas de Telegram de membros da força-tarefa do caso Lava Jato em Curitiba e do, à época da Operação, ministro Sérgio Moro, então juiz federal encarregado do caso, revelaram possível conluio em mensagens de procuradores da República, com uso vulgar da linguagem, cuja tipicidade é de facínoras e se encontra distante do que se espera dos mais bem remunerados servidores da República. O que levanta a hipótese de que uma espécie de ‘Sindicato do Crime’ parece ter operado através da força-tarefa do Caso Lava Jato, no Ministério Público Federal (MPF), em conluio com juízes federais, policiais federais e membros da Receita Federal.

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