Estado Disfuncional: Em entrevista ao Jornal A Tarde, presidente da AMAB traça quadro de penúria da magistratura estadual da Bahia; Desembargador Júlio Travessa recebeu R$ 91.998,07 em dezembro de 2022

O presidente da Associação de Magistrados Estaduais da Bahia (AMAB), Júlio Travessa, afirmou em entrevista que a magistratura estadual da Bahia está em situação de penúria e que os juízes baianos estão "respirando por aparelhos". No entanto, foi revelado que em dezembro de 2022, ele próprio recebeu R$ 91,998.07 em rendimentos. Isso levanta questões sobre a distribuição dos recursos financeiros do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) e como os altos salários dos servidores podem ser um obstáculo para a melhoria da gestão do poder judiciário e para a redução da desigualdade estrutural na Bahia. A situação é agravada por um Poder Legislativo Estadual que aprova leis que favorecem a transferência de 50% do orçamento estadual para os cerca de 200 mil servidores. Além disso, a concentração de renda no estado também é evidenciada por dados da pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que apontam que 77 de cada 100 crianças e adolescentes que vivem na Bahia estão em estado de pobreza.
Trecho da entrevista do desembargador Júlio Travessa ao Jornal A Tarde em que ele diz que "juízes baianos estão respirando por aparelhos" e reprodução das folhas de pagamento de janeiro e dezembro de 2022 dele próprio.

Oriundo do Quinto Constitucional do Ministério Público da Bahia (MPBA), o desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) Júlio Cezar Lemos Travessa é o atual presidente da Associação de Magistrados Estaduais da Bahia (AMAB). Em entrevista publicada nesta sexta-feira (24/02/2023) no Jornal A Tarde, ele apresenta um quadro de penúria e dificuldade para os magistrados estaduais. Mas, fato curioso, é que, em dezembro de 2022, ele próprio recebeu R$ 91,998.07 em rendimentos. A informação consta no Portal da Transparência do TJ (https://transparencia.tjba.jus.br/transparencia/home#!/remuneracao).

Com título ‘Júlio Travessa: “Juízes baianos estão respirando por aparelhos”’ e subtítulo ‘Desembargador lamenta também que a categoria não seja ouvida pelo presidente do TJBA’, a entrevista é revestida de severo ataque ao presidente do Poder Judiciário Estadual da Bahia (PJBA), desembargador Nilson Castelo Branco, com efeito sobre os demais membros da Mesa Diretiva.

Ocorre que os argumentos apresentados pelo servidor público Júlio Travessa encontram ressonância dentro do conceito de Estado Disfuncional, haja vista o elevado rendimento que ele próprio recebe. Cita-se que, em janeiro de 2022, o magistrado de segundo grau recebeu total de R$ 75,030.80 em rendimentos.

Em síntese e em tese, com a melhor distribuição dos recursos financeiros do TJ seria possível avançar para o nível de excelência da gestão do Poder. Mas, fato é que o elevado gasto com servidores é fator impeditivo.

Infere-se que os exorbitantes valores pagos aos servidores representam uma característica do Estado Disfuncional, que não aplica devidamente os recursos pagos pelos contribuintes, de tal forma a promover a superação da Desigualdade Estrutural na sociedade baiana. Contribuindo no sentindo inverso, para elevar a concentração de renda e enriquecimento de número pouco expressivo de servidores.

A situação é colaborada por um Poder Legislativo Estadual que aprova Leis que favorecem a transferência de 50% do Orçamento Estadual para os cerca de 200 mil servidores.

Outro elemento que revela o resultado perverso da concentração de renda no estado, decorrente da transferência de tributos para pagamento de servidores públicos, pode ser percebida no dado da pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) que apontou para o fato de que 77 de cada 100 crianças e adolescentes que vivem Bahia estão em estado de pobreza. Nota-se que dos cerca de R$ 63 bilhões do Orçamento da Bahia para 2023, apenas R$ 1,3 bilhão estão previstos para investimento.

Baixe

Juízes baianos estão respirando por aparelhos, diz Júlio Travessa em entrevista ao Jornal A Tarde

Folha de Pagamento de Dezembro de 2022 do desembargador do TJBA Júlio Cezar Lemos Travessa

Folha de Pagamento de Janeiro de 2022 do desembargador do TJBA Júlio Cezar Lemos Travessa

Presidente da OAB é elogiada por artigo em que enquadra presidente da AMAB por “miopia corporativista”

Leia +

Estado Disfuncional: Rendimento anual de promotores e procuradores de Justiça do MPBA é de cerca de R$ 500 mil; Enquanto 77 de cada 100 crianças e adolescentes estão na pobreza na Bahia

Na Bahia, 77,8% das crianças e adolescentes vivem na pobreza, alerta UNICEF; Estudo revela as múltiplas dimensões do problema social no Brasil

Banner da Prefeitura de Santo Estêvão: Campanha do São João 2024.
Banner da Campanha ‘Bahia Contra a Dengue’ com o tema ‘Dengue mata, proteja sua família’.
Sobre Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia 10782 artigos
Carlos Augusto é Mestre em Ciências Sociais, na área de concentração da cultura, desigualdades e desenvolvimento, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Ensino Superior da Cidade de Feira de Santana (FAESF/UNEF) e Ex-aluno Especial do Programa de Doutorado em Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como jornalista e cientista social, é filiado à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ, Reg. Nº 14.405), Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ, Reg. Nº 4.518) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI Bahia), dirige e edita o Jornal Grande Bahia (JGB), além de atuar como venerável mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Maçônica ∴ Cavaleiros de York.

Seja o primeiro a comentar

Deixe um comentário