“Tu te tornas responsável por aquilo que cativa”. Essa é uma das frases mais conhecidas do livro o Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Mas além da discussão sobre a importância de se alimentar boas coisas, 10 internos do Conjunto Penal de Irecê conversaram acerca de oportunidades para se reescrever uma nova história e virar a página.
O debate foi promovido pelo projeto Virando a Página, da Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça da Bahia (CGJ\TJBA). Mesmo com a dificuldade de leitura de alguns dos participantes, todos apresentaram o que haviam entendido do livro. Escolhas erradas, o maleficio dos vícios e esperança de um amanhã diferente foram alguns dos assuntos explanados pelos leitores.
Além de contribuir para a ressocialização, o Virando a Página incentiva a alfabetização. Felipe Lima é um exemplo. Ele não sabia ler, mas com o apoio do projeto, por meio, também, das professoras da unidade, a leitura dele está evoluindo.
“O que sinto é gratidão e esperança de dias melhoras”, disse Agda Alves, Coordenadora Pedagógica do Complexo Penal de Irecê.
Ao lado de Uênio Barreto e Carla Mendes, outros educadores do local, ela assistiu, emocionada, as discussões dos internos.
A roda de leitura foi dirigida pelo Professor Everaldo Carvalho, colaborador da CGJ. Na ocasião, ele guiou os internos pelo mundo da imaginação apresentado no Pequeno Príncipe e os incentivou a cultivarem apenas o que é bom.
Sérgio Mendes, um dos reeducandos de Irecê, compartilhou o que aprendeu com o “Pequeno Príncipe”. “Às vezes olhamos (de longe) para alguém e criamos conceitos sobre aquela pessoa. Mas quando nos aproximamos vemos que nos engamos com nossos próprios olhos”, falou, se referindo a parte da história em que o personagem principal acha que uma rosa que ele encontra é a única que existe, mas depois descobre outras.
O Virando a Página tem sido realizado em diversos complexos penais do Estado da Bahia e busca contribuir para uma sociedade mais justa e livre de preconceitos. Presente nas discussões, inclusive em Irecê, o Corregedor-Geral do TJBA, Desembargador José Edivaldo Rocha Rotondano, sempre salienta para os internos que estar privado de liberdade não significa deixar de ser um cidadão.
“Anésia Cauaçu”, de Domingos Ailton; “A Cor Púrpura”, de Alice Walker; “Vidas Secas” de Graciliano Ramos; e “Humor com Amor”, da autora Macaria Andrade foram algumas das obras já discutidas pelo Virando a Página.
No próximo mês de julho, a Ministra Rosa Weber vai participar de uma roda de leitura do projeto.
“Queremos demonstrar que o Poder Judiciário não está só para condenar e absolver, mas também queremos a ressocialização”, destacou o Desembargador Rotondano.
De acordo com ele, as pessoas privadas de liberdade precisam de orientação e meios para ocuparem a mente.
“É necessário estrarem preparadas para o encontro com a sociedade ao saírem do cárcere”, completou.
Lançamento
Também em julho, ocorre o lançamento de um livro escrito pelos internos da Penitenciária Lemos de Brito, em Salvador. A obra foi produzida durante uma oficina literária (segunda etapa do projeto Virando a Página), ministrada Alex Giostri.
Ao longo da oficina, os participantes se depararam com ferramentas para construir um texto, seja ele ficcional e ou a partir de seus olhares, partindo de um fundamento da história e indo para o desenvolvimento e construção de personagens e desfechos.
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