Sinal para as nações: A contribuição da Rússia na criação do mundo multipolar

Vladimir Putin, presidente da Rússia, em reunião com Conselho Econômico Supremo.
Vladimir Putin, presidente da Rússia, em reunião com Conselho Econômico Supremo.

No dia 12 de junho é comemorado o Dia da Rússia. A data, por si só altamente significativa, também traz à memória a contribuição da Rússia para o processo de consolidação de um mundo multipolar no século XXI.

Durante os anos 1990 o mundo vivenciou um período verdadeiramente “unipolar”, no qual a predominância ideológica, econômica e política dos Estados Unidos era praticamente incontestável. Desde meados dos anos 2000, contudo, a Rússia tem se oposto firmemente às “abordagens unilaterais” dos americanos para a solução de crises internacionais em diversas partes do globo.

Além disso, Moscou conseguiu angariar o apoio de nações importantes para o estabelecimento de um mundo mais representativo e justo. Nessa lista de nações encontram-se por exemplo: Brasil, Índia, China, Indonésia, Turquia, Irã, México e muitos outros países, os quais enxergam claramente os riscos das ações unilaterais do poder hegemônico estadunidense no sistema.
Não somente isto, todos esses Estados – seguindo o exemplo da Rússia – comprometeram-se a defender uma ordem mundial multipolar e multifacetada, em que possam exercer o direito de escolher sua própria organização política, econômica e social, sem sofrerem qualquer tipo de interferência externa.

De certo modo, seria possível dizer que os próprios americanos foram os responsáveis por provocar essa reação à sua posição hegemônica. Durante os anos 1990 e, com ainda mais clareza, no começo dos anos 2000 os Estados Unidos abalaram a confiança nas normas e nas instituições internacionais que eles mesmos ajudaram a criar no período pós-guerra.

Tudo isso por conta das inúmeras intervenções militares (travestidas de intervenção “humanitária”) e de invasões forçadas a diversos Estados, muitas delas sem qualquer respaldo por parte do Conselho de Segurança da ONU. O desastre causado à Iugoslávia nos anos 1990, ao Afeganistão e ao Iraque na primeira década dos anos 2000, assim como à Líbia e à Síria durante a segunda década desse século, são só alguns exemplos da catastrófica atitude unilateral dos americanos.

Não tardou, portanto, que países como a Rússia rejeitassem a ideia de que o direito à soberania de um Estado poderia ser relativizado, como defendido por Washington e seus satélites ocidentais. Mesmo na Europa (incluindo na própria Alemanha atualmente ocupada), a simpatia pelos Estados Unidos em muitos lugares deu lugar à desconfiança quanto ao belicismo norte-americano no sistema, focado em defender seus interesses geopolíticos às custas – até mesmo – do bem-estar das populações dos países aliados.

Afinal, de que outra forma poderia se explicar a insistência estadunidense pelo prolongamento do conflito na Ucrânia, mesmo aos custos econômicos, humanitários e sociais causados pelo continente? Fato é que: se os europeus perderam sua capacidade de resistir aos desígnios americanos, a Rússia e os países asiáticos tomaram um caminho diferente.

Neste ponto, em especial, é preciso fazer menção ao eminente diplomata russo Yevgeny Primakov (ministro das Relações Exteriores de 1996 a 1998 e primeiro-ministro da Rússia entre 1998 e 1999), considerado um dos principais advogados do conceito de “multipolaridade” nas relações internacionais.

Foi a partir de Primakov que a Rússia começou a fortalecer suas alianças com China e Índia, pretendendo acelerar o processo de consolidação de um mundo multipolar que refletisse a pluralidade civilizacional e de sistemas de valores.

Levando essa ideia a cabo, em 2006 Putin promoveu a criação do grupo RIC (Rússia, Índia e China) no intuito de coordenar posições comuns a respeito de temas importantes da política regional e global, grupo esse que serviria de prelúdio para a formação do BRICS três anos depois.

A Rússia, por sua vez, foi o país onde se deu a primeira cúpula de líderes do agrupamento em 2009, enviando um verdadeiro sinal para as nações de que o mundo estava prestes a passar por significativas transformações. Desde então, a consolidação do BRICS e a tentativa de retomada da unipolaridade por parte dos americanos (contando com a ajuda dos satélites europeus) foram fenômenos que correram em paralelo.

Hoje, vemos que cada vez mais países demonstram interesse em se unir ao BRICS, dando maior impulso a essa transformação sistêmica em direção a um mundo multipolar. Na Eurásia, por sua vez, os Estados Unidos têm abertamente se empenhado em impedir a consolidação do continente como um centro de poder influente no mundo multipolar.

Para isso, Washington promoveu a expansão da OTAN para o leste no contexto pós-Guerra Fria e a exportação de instabilidade política para as fronteiras da Rússia (por meio das “revoluções coloridas”) e também para as regiões de interesse imediato da China.

Contudo, a aproximação entre Moscou e Pequim durante os anos 2000 foi suficiente para estabelecer uma verdadeira reestruturação estratégica no continente eurasiático, através de projetos econômicos e políticos ambiciosos como a Nova Rota da Seda e a Organização de Cooperação de Xangai (SCO na sigla em inglês), capazes de limitar a influência hegemônica estadunidense na região.

Com isto, Rússia e China assumiram o compromisso de promover a Eurásia como um componente essencial de uma ordem mundial multipolar e como uma alternativa aos ditames unilaterais do Ocidente dentro do sistema. Dado todo esse contexto, pode-se dizer que o Dia da Rússia representa mais do que uma celebração em âmbito nacional no seu sentido mais restrito.

Trata-se, na verdade, de uma data simbólica em homenagem também a todas as nações que optaram por defender os seus valores, a sua cultura, a sua história e a sua autonomia política. Isso porque enquanto a Rússia existir nenhum projeto de dominação global se sairá vitorioso.

Enquanto a Rússia existir, as nações saberão que é possível superar as pressões externas do poder hegemônico a fim de manter sua independência. Afinal, o que está em jogo aqui é muito mais valioso do que os ganhos da acomodação. Trata-se de defender o direito soberano que cada Estado tem de decidir o seu próprio caminho e destino.

*Com informações da Sputnik.

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