Quito, 9 set (EFE).- O Governo do Equador sai fortalecido da crise provocada pela recente rebelião abafada e se inclinará ainda mais radical à esquerda com expropriações de terras e a expulsão dos banqueiros do conjunto de acionistas da imprensa, disse à Agência Efe René Ramírez, secretário nacional de Planejamento e Desenvolvimento.
A revolta de policiais e de alguns militares em 30 de setembro revelou um aparente descontentamento entre as forças de segurança, mas o Governo não cedeu à oposição.
Pelo contrário, a atitude do Executivo de Rafael Correa foi “radicalizar” seu projeto político, segundo palavras do próprio presidente.
Ramírez é o homem encarregado de pôr os detalhes a essa declaração. “Queremos ter um Governo muito mais progressista, mais voltado à esquerda”, disse em entrevista à Efe.
Apesar da traumática sublevação de 30 de setembro, durante a qual Correa ficou boa parte do dia retido em um hospital, o Governo equatoriano se sente fortalecido após constatar o apoio popular.
O Equador é um país com longa experiência de instabilidade política. “A cidadania saía para derrubar presidentes. Esta é a primeira vez na história em que sai para defender um presidente, defender um projeto político”, argumentou Ramírez.
No dia da revolta, milhares de pessoas responderam ao pedido do Governo e foram ao hospital onde Correa ficou cercado, enquanto as manifestações contra o líder se viram muito menores.
Após o motim, a popularidade do presidente disparou para 75%, segundo o instituto de pesquisas Santiago Pérez, e para 58%, de acordo com o instituto Cedatos, este considerado pelo Governo como vinculado ao seu maior rival político, o ex-presidente Lucio Gutiérrez (2003-2005).
Esse apoio nas ruas, nas pesquisas e também, como indicou Correa, na Assembleia Nacional, deu ânimos ao Governo para “aprofundar” seus planos políticos.
Entre eles está acelerar a reforma agrária, mediante a distribuição de terras baldias do Estado, a desapropriação de terrenos privados improdutivos e a elevação dos impostos desse tipo de propriedade para forçar os donos a vender, explicou Ramírez.
O Governo também pretende que os bancos públicos ajudem os funcionários de empresas nacionalizadas durante a crise bancária de 1999 a comprarem a Agência de Garantia de Depósitos (AGD), uma entidade governamental.
Seu objetivo, segundo Ramírez, é buscar “formas de propriedade republicana, chamemos assim”. O Executivo propôs também um programa de “substituição seletiva de importações”, que prevê o aumento das tarifas e o fornecimento de incentivos à produção, ou seja, o caminho oposto ao livre-comércio.
Além disso, o Governo pretende reduzir a porcentagem de ações que os bancos poderão ter nos meios de comunicação, abaixo do máximo de 25% contemplado até o momento.
“Do meu ponto de vista, tem de ser 0%”, exclamou o secretário.
Por outro lado, o superintendente de Telecomunicações do Equador, Fabián Jaramillo, indicou que obrigar os banqueiros a vender todas as ações em meios de comunicação provocaria o “caos” no país, pois podem possuí-las de forma indireta, através de um consórcio ou uma cooperativa.
Ramírez afirmou que o Governo estuda agora maneiras de como eliminar o mais rápido possível essa presença no conjunto de acionistas, para que a imprensa não se submeta “aos grupos de interesse”.
“Se não se pode chegar a esse 0%, será necessário ver qual é esse mínimo que consiga a não-intervenção na objetividade da produção de informações”, declarou.
Em 20 de outubro, vence o prazo para que os banqueiros e seus parentes vendam as ações nos meios de comunicação do Equador que ultrapassem esses 25%.
Ao mesmo tempo, o Governo segue sem se desfazer de duas emissoras televisivas nacionalizadas, antes pertencentes a um grupo bancário falido. O Governo prometeu há anos que venderia no prazo de seis meses as redes “Gama TV” e a “TC Televisión”.
Os canais fazem parte de uma ampla rede midiática controlada pelo Governo, que também interrompe a programação das emissoras privadas para transmitir programas nos quais costuma criticar a oposição.
Ramírez destaca que esse poder midiático do Governo contribui “à pluralidade de vozes” no país.
*Com informações do Deustche Welle
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