O delator Joesley Batista, executivo do Grupo J&F, em entrevista à Diego Escosteguy — veiculada neste sábado (17/02/2017), na Revista Época — revela que o presidente Michel Temer (PMDB/SP) é chefe de organização criminosa (OCRIM) e que Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Padilha, Moreira Franco e Lúcio Funaro fazem parte do mesmo grupo. Além de revelar quais são os membros da OCRIM, o colaborador da justiça diz que trata-se da “maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil” e que “quem não está preso está no Planalto”.
Questionado sobre o motivo que o fez se relacionar com o grupo de Temer, Cunha, Geddel e Lúcio Funaro, operador do PMDB de recursos ilícitos, segundo a força-tarefa da Lava Jato, o empresário afirmou: “Eles foram crescendo no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura – todos órgãos onde tínhamos interesses. Eu morria de medo de eles encamparem o Ministério da Agricultura. Eu sabia que o achaque ia ser grande. Eles tentaram. Graças a Deus mudou o governo e eles saíram. O mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado”.
Sobre a relação do presidente com o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Joesley afirma à revista: “A pessoa a qual o Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Essa era a hierarquia. Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio. O que ele não consegui resolver ele pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel”.
Na entrevista, Joesley fala sobre a “compra de silêncio” de Cunha. “Virei refém de dois presidiários (Cunha e Lúcio Funaro). Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso. Eu tinha perguntado para ele: “Se você for preso, quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?”. Ele disse: ‘O Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda’. Passou um mês, veio o Altair. Meu deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que, quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados.”
Esse tema foi alvo de conversa gravada entre o empresário e Temer. Em áudio, o presidente da República afirma que “tem que manter isso aí, viu”, em relação, segundo a Procuradoria-Geral da República, à mesada de Joesley ao deputado cassado.
Joesley também faz o relato de um caso de chantagem de Cunha sobre o empresário para que não fossse aberta uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar empréstimos da JBS feitos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O Eduardo, quando já era presidente da Câmara, um dia me disse assim: ‘Joesley, tão querendo abrir uma CPI contra a JBS para investigar BNDES. É o seguinte: você me dá cinco milhões que eu acabo com a CPI.’ Falei: Eduardo, pode abrir, não tem problema. Como não tem problema? Investigar o BNDES, vocês. Falei: Não, não tem problema. Você tá louco? Depois de tanto insistir, ele virou bem sério: é sério que não tem problema? Eu: é sério. Ele: não vai te prejudicar em nada? Não, Eduardo. Ele imediatamente falou assim: seu concorrente me paga cinco milhões para abrir essa CPI. Se não vai te prejudicar, se não tem problema… Eu acho que eles me dão os 5 milhões. Uai, Eduardo, vai sua consciência. Faz o que você achar melhor’. Esse é o Eduardo. Não paguei e não abriu. Não sei se ele foi atrás. Esse é o exemplo mais bem acabado da lógica dessa Orcrim (organização criminosa)”, afirmou Joesley à revista.
Procurador-geral da República reduz número de procuradores com acesso a informações sobre Michel Temer
Segundo reportagem de Murilo Ramos, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, diminuiu a quantidade de pessoas com acesso a informações envolvendo o presidente Michel Temer e seus assessores mais próximos. Janot procura evitar o vazamento de qualquer detalhe sobre a investigação e procedimentos relacionados. E isso incluiu itens da denúncia que ele apresentará contra Temer nas próximas semanas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e que tem por base as delações de executivos do J&F. Tudo em nome do efeito surpresa.
Confira trecho da entrevista de 12 páginas concedida à Revista Época
Época — O chefe é o presidente Temer?
Joesley Batista — O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais nem deixando eles longe demais. Para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida. Daquele sujeito que nunca tive coragem de romper, mas também morria de medo de me abraçar com ele.
Época — No decorrer de 2016, o senhor, segundo admite e as provas corroboram, estava pagando pelo silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, ambos já presos na Lava Jato, com quem o senhor tivera acertos na Caixa e na Câmara. O custo de manter esse silêncio ficou alto demais? Muito arriscado?
Joesley Batista — Virei refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso. Eu tinha perguntado para ele: “Se você for preso, quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?”. Ele disse: “O Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda”. Passou um mês, veio o Altair. Meu Deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que, quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados.
Época — E o Lúcio Funaro?
Joesley Batista — Foi parecido. Perguntei para ele quem seria o mensageiro se ele fosse preso. Ele disse que seria um irmão dele, o Dante. Depois virou a irmã. Fomos pagando mesada. O Eduardo sempre dizia: “Joesley, estamos juntos, estamos juntos. Não te delato nunca. Eu confio em você. Sei que nunca vai me deixar na mão, vai cuidar da minha família”. Lúcio era a mesma coisa: “Confio em você, eu posso ir preso porque eu sei que você não vai deixar minha família mal. Não te delato”.
Época — E eles cumpriram o acerto, não?
Joesley Batista — Sim. Sempre me mandando recados: “Você está cumprindo tudo direitinho. Não vão te delatar. Podem delatar todo mundo menos você”. Mas não era sustentável. Não tinha fim. E toda hora o mensageiro do presidente me procurando para garantir que eu estava mantendo esse sistema.
Época — Quem era o mensageiro?
Joesley Batista — Geddel. De 15 em 15 dias era uma agonia terrível. Sempre querendo saber se estava tudo certo, se ia ter delação, se eu estava cuidando dos dois. O presidente estava preocupado. Quem estava incumbido de manter Eduardo e Lúcio calmos era eu.
Época — O ministro Geddel falava em nome do presidente Temer?
Joesley Batista — Sem dúvida. Depois que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses assuntos via Geddel. O presidente sabia de tudo. Eu informava o presidente por meio do Geddel. E ele sabia que eu estava pagando o Lúcio e o Eduardo. Quando o Geddel caiu, deixei de ter interlocução com o Planalto por um tempo. Até por precaução.
O Globo
Em 17 de maio de 2017, Joesley Batista colocou o presidente Michel Temer no centro do esquema criminoso do Caso Lava Jato. Nesta data, o jornal O Globo, respaldado pela Rede Globo — Grupo de comunicação responsável pelo apoio ao Golpe Civil/Militar de 1964 e pelo apoio ao Golpe Parlamentar de 2016 — revelou que o magnata da gigante de carnes JBS havia assinado um acordo de delação premiada que continha uma gravação em áudio altamente comprometedora para o presidente. A delação e a gravação, esta feita em encontro secreto na residência oficial, mergulhou o Governo em profunda crise, mas não o fez entregar os pontos. Um mês depois, o empresário voltou à carga.
Retorno ao Brasil
Após ter acordo de delação premiada Joesley Batista foi morar nos Estados Unidos, está no Brasil desde domingo (11). Nesta sexta-feira (16), Joesley prestou depoimento na Justiça Federal, em Brasília.
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*Com informações da Revista Época, Estadão e El País.