No coração da Amazônia, ao lado de produtos emblemáticos como o açaí e a castanha-do-brasil, desponta o cacau como protagonista na crescente bioeconomia regional. Responsável por movimentar R$ 12 bilhões do Produto Interno Bruto (PIB) amazônico, dos quais R$ 9 bilhões pertencem ao Pará, o cacau revela um potencial de triplicar seus impactos econômicos até 2050, de acordo com um estudo realizado pelo WRI Brasil. O modelo de agrofloresta cacaueira, fundamentado em sistemas agroflorestais (SAF) e na agricultura familiar, não apenas demonstra ser mais lucrativo em comparação à pecuária, mas também emerge como uma estratégia eficaz contra o desmatamento, ao gerar renda, assegurar a alimentação e promover a restauração florestal.
O cacau amazônico se destaca não apenas pelo seu valor intrínseco, mas também pela pegada sustentável, tornando-se atrativo para grandes empresas que buscam práticas ambientalmente conscientes e para o mercado de chocolates especiais, que valoriza produtos de origem e qualidade diferenciada. No entanto, o desafio reside na escala de produção, sendo que apenas cerca de 3% das amêndoas produzidas na região são absorvidas por pequenas chocolaterias artesanais locais, enquanto a maior parte permanece no mercado commodity. A Ilha do Combu, próxima a Belém, exemplifica como o cacau se tornou um vetor de receita através do turismo, com a empresa Filha do Combu recebendo 500 turistas semanalmente.
A transição do desmatamento para a agrofloresta cacaueira também é testemunhada na Fazenda Iracema, em São Francisco do Pará, onde a família Nóbrega refloresta para produzir cacau, rejeitando a antiga prática incentivada de criação de gado e desmatamento. O estudo da Embrapa destaca que 75% da produção de cacau ocupa áreas degradadas no Pará, contribuindo para a redução do desmatamento e dos incêndios. No entanto, o desafio é aumentar essa escala sem comprometer a diversidade, focando em mercados locais e nichos específicos.
Os investimentos estaduais no Pará, previstos em torno de R$ 350 milhões via bancos multilaterais e de desenvolvimento, alinham-se com o Plano Estadual de Bioeconomia lançado em 2022, que vislumbra um potencial anual de US$ 120 bilhões em exportações, destacando produtos como cacau e açaí. O Plano de Recuperação da Vegetação Nativa do Estado, que pretende restaurar 5,6 milhões de hectares até 2030, pode proporcionar um ambiente favorável para o crescimento da agrofloresta cacaueira. Com a Amazônia sendo três vezes mais produtiva do que a Bahia, há um movimento crescente para conectar indústrias de chocolate, como a Cargill, com produtores locais, fortalecendo cooperativas e investindo na produção sustentável de cacau.
*Com informações do Jornal Valor.
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