Entrevista concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na chegada ao Hotel Dorchester

Publicada em 4 de novembro de 2009. Realizada em Londres, Inglaterra.

Jornalista: (incompreensível) que o Brasil vai ter metas (incompreensível). Essa é uma decisão do governo?

Presidente: Olha, deixa… primeiro, é importante compreender, porque nós tivemos uma reunião ontem pela manhã no Brasil, com todos os ministros que participam da elaboração da nossa proposta. Ainda tem algumas coisas para acertar e nós ficamos de acertar até o dia 13 ou dia 14, porque tem uma pré-reunião de ministros em Copenhague e nós queremos preparar a nossa proposta para que os nossos ministros que forem a Copenhague, agora, na pré-reunião, estejam bem-estruturados com uma proposta do governo. Não vai ter dois ministros falando coisas diferentes, ou seja, todos vão ter que falar a mesma língua e os mesmos números, porque são números de propostas elaboradas pelo governo. Essa é a primeira coisa.

A segunda coisa é que eu já tinha assumido o compromisso, no discurso do dia 23 de setembro, nas Nações Unidas, de que nós iríamos reduzir o desmatamento em 80%, até 2020. Esse já é um número público e que nós vamos ter que fazer um esforço incomensurável para que a gente possa cumprir até 2020.

Depois, nós temos um conjunto de outras políticas, que são compromissos do Brasil, ou seja, que não são compromissos que você vai tentar impor em Copenhague. Em Copenhague, o que nós precisamos é trabalhar, e eu acabei de ter uma reunião agora com o primeiro-ministro Gordon Brown. Pedi, como a Dilma é a coordenadora do Grupo Interministerial, que ele designasse alguém para ficar em contato diário com a Dilma, para a gente ir construindo. Ele pediu para que eu falasse com o Obama. Eu vou tentar falar com o Obama, vou tentar falar com o Hu Jintao, vou tentar falar com o primeiro-ministro Singh, até o dia 13. [Na] semana que vem vou tentar ligar para todos eles – para ver se a gente constrói um número que seja factível, ou seja, um número de compromisso de desaquecimento global, um número de emissões e um número de sequestro de carbono. Isso nós vamos tentar construir, porque o que pode acontecer de pior em Copenhague é a sociedade mundial perceber que os líderes não estão assumindo responsabilidade pela gravidade dos problemas que o mundo criou nesses últimos anos.

Jornalista: Então o Brasil não leva um número seu para essa…

Presidente: Não, o Brasil leva o número dos compromissos do Brasil para consigo mesmo.

Jornalista: Ou seja, não assume um compromisso perante a comunidade internacional, mas assume um compromisso perante a sociedade brasileira.

Presidente: Não, não, não. Veja: nós vamos assumir um compromisso junto com a comunidade internacional, com um número construído junto com a comunidade internacional. O que nós não queremos é chegar com os nossos números e tentar impor os nossos números para a comunidade internacional. Nós queremos dizer: nós temos tais compromissos, vamos fazer tais coisas, desde a recuperação de terras degradadas, desde o zoneamento agroecológico, até a questão do desmatamento, a questão do biodiesel. Mas nós… esse é o compromisso brasileiro. Agora, para os outros… para o resultado do acordo, nós queremos construir uma proposta conjunta. Por isso que nós vamos tentar estabelecer conversações com todos os líderes. Nós achamos que o número da União Europeia é insuficiente, mas isso a gente vai ter que discutir lá porque, também, é muita gente envolvida.

Eu acho que como é uma coisa muito delicada, nós precisamos convencer, sobretudo os Estados Unidos, que estão compromissados em convencer a China. Então, nós vamos ter que conversar com todo mundo. Se os líderes forem a Copenhague, eu estarei em Copenhague.

Jornalista: Isso foi discutido com o Gordon Brown hoje, e ele vai?

Presidente: Hoje. Acabei, acabei, acabei de discutir. Está quente a notícia. Acabei de discutir.

Jornalista: E ele vai?

Presidente: Ele vai, ele vai a Copenhague.

Jornalista: Ele vai e ele já acertou com algum outro…

Presidente: Ele vai a Copenhague, o Sarkozy vai a Copenhague. Tem uma proposta europeia que, certamente, os outros países não concordam, mas isso tem que ser ajustado até lá, porque é no dia 17 de dezembro. Nós temos tempo ainda para tentar estabelecer esse acordo.

Só?

Jornalista: Presidente, uma pergunta para a Colômbia, por favor. O senhor vai interferir no conflito (incompreensível) Colômbia com Venezuela?

Presidente: Eu não posso fazer uma intervenção porque eu respeito a soberania dos dois países. Eu disse ao presidente Uribe, na visita que ele fez a São Paulo, e disse ao presidente Chávez agora, na Venezuela, que eu gostaria de fazer uma reunião entre Colômbia, Venezuela e Brasil, para a gente estabelecer um pacto de não agressão, porque a minha tese é que só há uma possibilidade de os países da América do Sul crescerem: é viver em tranquilidade, viver em paz, porque nós dependemos uns dos outros. Cada país depende um pouco de outro país. Então, em vez de ficar brigando, nós temos que construir essa paz.

Mas eu só queria dizer para vocês uma coisa agora, para ir jantar, que é o seguinte: eu estou muito feliz com a criação da sede do BNDES aqui em Londres, porque era uma coisa que nós estávamos trabalhando já há alguns anos, não é uma novidade. Estamos construindo isso junto com o Ministério da Fazenda, com o BNDES e agora, finalmente, nós inauguramos o escritório, que vai começar pequeno, mas, certamente, nós queremos que se transforme num grande banco de investimento, tanto para ajudar os brasileiros a investirem fora do Brasil, como para captar recursos, para ajudar os estrangeiros a investirem no nosso país.

Jornalista: Só para encerrar…

Presidente: Dito isso, eu…

Jornalista: Só para encerrar Copenhague, Presidente. O senhor vai falar com o Obama. Qual é a proposta que o Gordon Brown conversou com você para levar ao Obama: convidá-lo a ir a Copenhague ou alguma outra coisa além disso?

Presidente: Não, não, é convidá-lo a ir a Copenhague, porque lá em Copenhague nós temos a chance de construir um número. Obviamente que nem todo país vai dizer qual é o seu número antes de se sentar à mesa de negociação. E nós achamos que o momento é um momento de indução, dos líderes mundiais apresentarem um número que seja factível para que a gente não repita Quioto, em que muitos países que foram a Quioto defender a proposta, depois não cumpriram a proposta. Como eu acho que o problema é sério, e talvez seja um dos problemas mais sérios do mundo, que não tem rico nem pobre, ou seja, se der uma situação de aquecimento global e o mar subir vai prejudicar muita gente. Então, eu penso que todos nós, agora, temos que trabalhar com mais seriedade e com mais responsabilidade.

Dito isso…

Jornalista: A gente já sabe disso.

Presidente: Eu estou com frio aqui na canela, rapaz.

Jornalista: (incompreensível) outro evento em Copenhague.

Presidente: Você sabe que depois de 60 anos, a gente fica com frio nas canelas.

___________: Só eu e você que sabemos disso, eles não.

Jornalista: É que se tem comentado muito desse tumulto que aconteceu no Rio. Tem se falado muito na necessidade de mais união dos Poderes, em relação à situação social do Rio de Janeiro. Inclusive esse fato tem tido muita repercussão, obviamente negativa. Já estão aproveitando qualquer oportunidade para falar mal do Rio. Se amanhã esse assunto surgir durante as conversas, o que o senhor tem para dizer em relação (incompreensível)?

Presidente: Primeiro que não precisa ninguém vir à Inglaterra para ouvir falar mal do Rio porque é só ler alguns periódicos do Rio que você vai ver que não falta assunto para falar mal. Veja, primeiro, eu fiz questão de pedir ao ministro Tarso Genro que fosse ao Rio de Janeiro e que assumisse, com o governador do Rio de Janeiro, todo o esforço que for necessário para que a gente possa ajudar o Rio de Janeiro a diminuir a violência. Nós temos o crime organizado incrustado no Rio de Janeiro há muitas décadas.

O governo do Sérgio Cabral está ocupando algumas favelas e está tentando tirar o narcotráfico de lá, e em algumas ele já conseguiu, e nós sabemos que não é uma tarefa fácil. É uma tarefa difícil e vamos ter que continuar fazendo isso. O que não pode faltar, na verdade, é dinheiro para que a gente faça, daí porque a participação do governo federal na… no total apoio ao governo do Rio de Janeiro para ver se a gente consegue tirar o narcotráfico do Rio de Janeiro e o crime organizado, sabendo que é preciso mais do que tirar, porque senão eles vão para outro lugar. É preciso prender os culpados para que a gente possa viver em paz no Rio de Janeiro e no Brasil.

Jornalista: O senhor vai ligar daqui para o Obama ou só do Brasil?

Presidente: Não, não, de lá, de lá.

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