Pós-graduação: Aumento de titulados chega perto da meta da Capes

Mestrado acadêmico foi o que registrou menor crescimento no período de 2005 a 2008

No último dos seis anos do plano nacional de pós-graduação, um balanço das metas traçadas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para o período de 2005 a 2010 mostra que estão perto de ser atingidas.

Em 2008, último dado disponibilizado pela instituição, havia 88,3 mil alunos matriculados em programas de mestrado – 84% do objetivo de 105 mil mestrandos até o fim de 2010.

O número de doutorandos (52,7 mil) chega a 96% da meta de 55 mil. Segundo o presidente da Capes, Jorge Guimarães, ela deve ser atingida com os números de 2009 e de 2010.

De 2005 a 2008, o maior incremento de alunos ocorreu no mestrado profissional: 44%. No doutorado, foi de 20%, e no mestrado acadêmico, de 14%.

Uma das explicações para a maior aproximação do número de doutores da meta traçada é a dinâmica dos programas, que começam com mestrado e são ampliados para doutorado.

“Atingiremos o cenário mais ambicioso, exceto nas áreas tecnológicas, pois o mercado melhorou e concorreu com a academia”, diz Guimarães.

Apesar de mais numerosos, os alunos de pós ainda estão longe das empresas, avaliam especialistas. Os poucos profissionais com formação superior -9,5% dos brasileiros com mais de 25 anos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)- relutam em trocar o salário por uma bolsa de estudos.

“No Brasil, a maioria [dos doutores] continua na universidade. Em outros países, muitos vão para os setores empresarial e industrial”, diz a socióloga Elizabeth Balbachevsky.

Ela acredita que o mestrado responde mal aos anseios do mercado. Moldado como um minidoutorado, afia as habilidades de pesquisador e não pode ser encarado como meio de refinamento profissional.

O mais ajustado para o mercado é o mestrado profissional, que deve avançar nas áreas de farmácia, química, computação e em setores ligados à indústria, afirma Guimarães.

Atualmente, porém, a modalidade tem 218 programas aceitos pela Capes -8,5% do oferecido. Para o próximo decênio _o plano nacional da pós passa a abranger dez anos a partir deste ano-, a Capes quer aumentar esse número e apoiar áreas tecnológicas.

Doutorado: migração para as empresas ainda é incipiente

Concluir o doutorado sinaliza compromisso com a vida acadêmica. Dos 69 mil doutores do país em 2008, 64 mil estavam em instituições de ensino superior e 2.400 atuavam em empresas, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia.

Na carreira acadêmica, o profissional dá aulas na graduação e integra projetos de pesquisa (que deve ser publicada em veículos científicos). Escrever livros e criar patentes são meios de crescer na carreira.

Dedicar-se à pesquisa, no entanto, também pode ser um trunfo fora da universidade, em setores que valorizam conhecimentos específicos, como o farmacêutico, o de engenharia, o de energia, o de biotecnologia e o de economia.

Neles, a especialização é considerada importante para ascender na carreira. As oportunidades, no entanto, restringem-se a nichos. Para muitos, o mercado ainda não está preparado para receber doutores.

“Boa parte das empresas não paga adequadamente pelos anos de estudo, principalmente fora do eixo Rio-São Paulo”, opina Henrique Freitas, professor da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Para apoiar o fluxo de mestres e doutores nas empresas, o Ministério da Ciência e Tecnologia e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) lançaram o edital Rhae – Pesquisador na Empresa, que aplicará R$ 30 milhões em projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação desenvolvidos nas companhias.

Há dois anos, Armando Villares Ferrer, 40, resolveu fazer essa migração. Após uma década de vida acadêmica -incluindo doutorado e pós-doutorado na Unicamp e aulas na Universidade Federal da Paraíba e na Universidade Federal Fluminense-, recebeu proposta para ocupar um posto de gerência na espanhola Indra.

A motivação foi a remuneração, superior à de professor. “A carga de trabalho é mais intensa e sou cobrado por resultados imediatos, mas os desafios são recompensadores, e o retorno das pesquisas, mais rápido.”

Pós-doutorado: agências oferecem mais bolsas como incentivo

Devido ao número reduzido de pós-doutores nas universidades, agências de fomento se esforçam para aumentar a quantidade de participantes de programas no estágio mais alto da formação acadêmica.

Em cinco anos, bolsas desse nível concedidas pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) cresceram 45,6%: de 965 em 2005 para 1.405 em novembro de 2009. Na Capes, o aumento foi de 451% -de 479 bolsas em 2005 para 2.161 em novembro de 2009.

Ainda assim, o número de pós-doutores em boas universidades de pesquisa em São Paulo é quatro vezes menor do que em outros países, afirma o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz.

O pós-doutorado não visa à obtenção de um título. É como um treinamento para doutores consolidarem e atualizarem seu conhecimento. Para agências de fomento, é um meio de aumentar o número de cientistas e o desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação.

Para que o recém-doutor mantenha-se atuante em seu campo, há programas específicos para quem completou o doutorado há até cinco anos.

Àqueles que pretendem continuar trabalhando na área de pesquisa, Cruz alerta: “o pós-doutorado é uma experiência profissional considerada essencial para a admissão de pesquisadores nas melhores universidades do mundo”.

Mas não é só nas universidades que se faz o estágio. O programa nacional de pós-doutorado prevê fomento à pesquisa também em centros ou institutos de pesquisa e em empresas de base tecnológica.

Por meio desse tipo de programa, empresas como Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Cientistas Associados e Roche oferecem vagas para trabalhar em pesquisas que desenvolvem.

A Cientistas Associados, em São Carlos (SP), tem um pós-doutorando com bolsa pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). “Já tivemos dois bolsistas que ficaram por seis meses para realizar o trabalho”, explica Antonio Valerio Netto, diretor de tecnologia.

A bolsa é oferecida ao projeto, e a escolha do bolsista é feita pela empresa ou pelo instituto de pesquisa. André Furtado, pesquisador da Embrapa e responsável por uma bolsa de pós-doutoramento, explica que se espera do bolsista a mesma responsabilidade de um pesquisador contratado.

“O pós-doutorando tem que mostrar empenho, desenvoltura e experiência de liderança, além de procurar contatos e buscar parcerias no exterior.”

A bolsa pode durar no mínimo seis meses e chegar a 48 meses, quando a pesquisa é vinculada a um projeto já financiado por agência de fomento. Seu valor é de R$ 3.300 na Capes e de R$ 4.508 na Fapesp.
(Folha de SP, 31/1)

Objetivo profissional define se vale pedir auxílio

O valor de uma bolsa de estudos para pós varia de R$ 1.200 (mestrado) a R$ 4.500 (pós-doutorado). Para o doutorado, gira em torno de R$ 1.800. Como bolsistas não podem ter vínculos empregatícios, é preciso ponderar se o auxílio vale a pena. Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a quantia mínima para se sustentar, em 2009, foi de R$ 2.000.

Outro ponto que entra na balança é o interesse em lecionar e virar pesquisador. Nesse caso, a bolsa faz sentido, pois é destinada a apoiar sua pesquisa.

“Em biologia, não tem como trabalhar e fazer mestrado. Experimentos e coletas de campo exigem dedicação de até mais de oito horas por dia”, diz Camila Rizek, 25. “Sem bolsa, não teria como fazer mestrado.”

A bióloga Luisiana Carneiro, 33, que foi bolsista no mestrado e no doutorado, acha que isso a ajudou a se dedicar aos estudos.

“Muitas têm reserva técnica para aplicar no projeto, em compra de material e equipamentos e em congressos”, diz. Mas, para ela, “só foi possível viver em São Paulo porque tinha moradia a preço baixo”.

Quem já está empregado deve se questionar se vale deixar o trabalho ou conciliar estudo e carreira. Com a bolsa, não poderá atuar em uma empresa por ao menos dois anos. Trabalhar informalmente é arriscado. “Os órgãos de fomento são rígidos com ilegalidade”, diz Maria Heloísa Blotta, coordenadora da pós em ciências médicas da Unicamp.

A ANPG (Associação Nacional dos Pós-Graduandos) debate com os principais órgãos de fomento o aumento dos valores e a política de distribuição regional. “Com a média que existe, é possível viver, mas não mais do que isso”, critica Hugo Valadares, presidente da ANPG. “Temas como licença-maternidade estão na pauta.”

“Um terço dos pós-graduandos tem vínculo empregatício e um terço tem bolsa, 85% delas da Capes e do CNPq”, afirma o presidente da Capes, Jorge Guimarães.

Para pedir bolsa, é preciso acompanhar o calendário oficial de cada instituição, em suas páginas na internet.

Fonte: Folha de São Paulo, 31 jan. 2010

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Sobre Juarez Duarte Bomfim 726 artigos
Baiano de Salvador, Juarez Duarte Bomfim é sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Tem trabalhos publicados no campo da Sociologia, Ciência Política, Teoria das Organizações e Geografia Humana. Diversas outras publicações também sobre religiosidade e espiritualidade. Suas aventuras poético-literárias são divulgadas no Blog abrigado no Jornal Grande Bahia. E-mail para contato: juarezbomfim@uol.com.br.

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