Após publicar no sábado (04/06/2022) a matéria ‘UEFS contesta análise crítica do Jornal Grande Bahia e apresenta relato sobre a estrutura e desempenho da instituição’, na qual a Administração Central da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) contesta a análise crítica apresentada pelo veículo de imprensa na matéria ‘25 mil alunos se formaram pela UEFS em 46 anos; Média anual é de pouco mais de 500 estudantes e custo é estimado em R$ 470 mil por formando’, o Jornal Grande Bahia (JGB) apresenta o seguinte posicionamento:
Uma instituição que transforma crítica em ataque evidencia o quanto ela está ensimesmada no castelo de certezas do absolutismo de valores inquestionáveis. Neste aspecto, se o entendimento parte de uma instituição de ensino tipo universidade, é gravoso o quadro de anomia intelectual e de atuação, haja vista que a função social da imprensa, dentre elas, sendo a principal, é a crítica, que age como forma de revisão de discursos e práticas, tendo como finalidade o aprimoramento da sociedade e das instituições que dela fazem parte.
Em síntese, a imprensa, livre das amarras de interesses e pressões, atua como um catalisador dos descontentamentos sociais, reavaliando e repercutindo discursos contra pessoas e sistemas, tendo por fim o aprimoramento da própria vida cidadã, cuja plenitude é exercida através de diversos processos, dentre eles, o da Liberdade de Imprensa.
Na matéria ‘UEFS contesta análise crítica do Jornal Grande Bahia e apresenta relato sobre a estrutura e desempenho da instituição’, a Universidade, ao comentar sobre a avaliação do Jornal Grande Bahia, através da seguinte afirmação:
— […] Isto posto, refutamos as informações prestadas por este jornal que contribuem para o cenário de ataque e desmonte dos serviços públicos, e da universidade pública brasileira como um todo.
Evidencia a incapacidade intelectual e institucional de compreender a crítica jornalística como oportunidade de esclarecimento dialético e de revisão de práticas. Ao passo em que nega dados objetivos utilizados pelo Jornal Grande Bahia, a partir de estudo apresentando no relatório ‘Um Ajuste Justo: análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil’, publicado pelo Banco Mundial.
Anos letivos cancelados e perda da qualidade do ensino
As reportagens publicadas pelo Jornal Grande Bahia:
- Em 2009, Conselho Superior cancela vestibular de julho de 2009 da UEFS;
- Em 2011, Secretário da Educação da Bahia comenta fim da greve de 66 dias; Confira entrevista exclusiva com Osvaldo Barreto; e
- Em 2016, UEFS emite nota tentando justificar perda de mais um semestre letivo.
Indicam a correlação entre paralisação e greve de servidores, em situações que podem ter resultado no cancelamento de cerca de 2 anos letivos, além da perda da qualidade do ensino para os alunos matriculados.
Contabilizada a média anual dos 46 anos de atuação da UEFS com os cerca de dois anos letivos cancelados, implica afirmar que, na média do período, 1100 alunos deixaram de ser formados e que cerca de R$ 520 milhões foram pagos pela sociedade sem que ocorresse uma devida prestação de serviços por parte da instituição. (O orçamento anual da UEFS, em valores atuais, é de cerca de R$ 260 milhões)
Observa-se que não é a crítica do Jornal Grande Bahia que contribui para “o cenário de ataque e desmonte dos serviços públicos, e da universidade pública brasileira como um todo”, como afirmou a UEFS, mas, são as práticas desta e de outras instituições que, através da patrimonialização do setor público por servidores, promovem o atraso econômico, social e político do Brasil. Esta observação é mensurada em pesquisas quantitativas e qualitativas. O relatório do Banco Mundial é uma delas.
Neste contexto, verifica-se que o Estado Brasileiro paga elevados salários a um número reduzido de servidores, que retribuem com a baixa qualidade e produtividade no desempenho das funções. Este cenário é observado nos indicadores de desempenho das funções públicas exercidas no país e no cotidiano do cidadão que, atônito, verifica a forma desrespeitosa com a qual é tratado nas distintas instituições de Estado. Em um quadro de anomia estatal severa.
Aprimorar mecanismos de controle de produtividade e qualidade dos serviços executados por servidores e ampliar o número de servidores com remunerações justas e equilibradas, dentro da realidade política, economia e social do Brasil, é a obrigação que recai sobre a estrutura pública do país, para que a sociedade possa evoluir em níveis civilizatórios. Não compreender que isso é premente e, ou, atacar quem crítica não vai negar o fato em si, apenas demonstra o quanto as instituições de Estado, e isso inclui a UEFS, precisam passar por intensa e severa revisão.
Para além disto, as instituições de Estado precisam da aprovação e aceitação da população para continuar recebendo recursos e, com eles, desenvolver as atividades fins. Cabe à imprensa, dentre outros, questionar e verificar como agem.
Por fim, acreditar que veículo de imprensa é para reproduzir o discurso oficial revela incompreensão sobre o que representa a atuação do jornalismo em uma sociedade democrática. Erro comum entre pessoas dotadas de pensamento vulgar e instituições que se encontram em processos primitivos de desenvolvimento.
Scientia liberat (o conhecimento liberta).