No simplismo institucional que viceja na UEFS, análise crítica do Jornal Grande Bahia é transformada em “ataque”

Imagem apresenta tabela com dados do Orçamento Anual da UEFS referente ao ano de 2021.
Imagem apresenta tabela com dados do Orçamento Anual da UEFS referente ao ano de 2021.

Após publicar no sábado (04/06/2022) a matéria ‘UEFS contesta análise crítica do Jornal Grande Bahia e apresenta relato sobre a estrutura e desempenho da instituição’, na qual a Administração Central da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) contesta a análise crítica apresentada pelo veículo de imprensa na matéria ‘25 mil alunos se formaram pela UEFS em 46 anos; Média anual é de pouco mais de 500 estudantes e custo é estimado em R$ 470 mil por formando’, o Jornal Grande Bahia (JGB) apresenta o seguinte posicionamento:

Uma instituição que transforma crítica em ataque evidencia o quanto ela está ensimesmada no castelo de certezas do absolutismo de valores inquestionáveis. Neste aspecto, se o entendimento parte de uma instituição de ensino tipo universidade, é gravoso o quadro de anomia intelectual e de atuação, haja vista que a função social da imprensa, dentre elas, sendo a principal, é a crítica, que age como forma de revisão de discursos e práticas, tendo como finalidade o aprimoramento da sociedade e das instituições que dela fazem parte.

Em síntese, a imprensa, livre das amarras de interesses e pressões, atua como um catalisador dos descontentamentos sociais, reavaliando e repercutindo discursos contra pessoas e sistemas, tendo por fim o aprimoramento da própria vida cidadã, cuja plenitude é exercida através de diversos processos, dentre eles, o da Liberdade de Imprensa.

Na matéria ‘UEFS contesta análise crítica do Jornal Grande Bahia e apresenta relato sobre a estrutura e desempenho da instituição’, a Universidade, ao comentar sobre a avaliação do Jornal Grande Bahia, através da seguinte afirmação:

— […] Isto posto, refutamos as informações prestadas por este jornal que contribuem para o cenário de ataque e desmonte dos serviços públicos, e da universidade pública brasileira como um todo.

Evidencia a incapacidade intelectual e institucional de compreender a crítica jornalística como oportunidade de esclarecimento dialético e de revisão de práticas. Ao passo em que nega dados objetivos utilizados pelo Jornal Grande Bahia, a partir de estudo apresentando no relatório ‘Um Ajuste Justo: análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil’, publicado pelo Banco Mundial.

Anos letivos cancelados e perda da qualidade do ensino

As reportagens publicadas pelo Jornal Grande Bahia:

Indicam a correlação entre paralisação e greve de servidores, em situações que podem ter resultado no cancelamento de cerca de 2 anos letivos, além da perda da qualidade do ensino para os alunos matriculados. 

Contabilizada a média anual dos 46 anos de atuação da UEFS com os cerca de dois anos letivos cancelados, implica afirmar que, na média do período, 1100 alunos deixaram de ser formados e que cerca de R$ 520 milhões foram pagos pela sociedade sem que ocorresse uma devida prestação de serviços por parte da instituição. (O orçamento anual da UEFS, em valores atuais, é de cerca de R$ 260 milhões)

Observa-se que não é a crítica do Jornal Grande Bahia que contribui para “o cenário de ataque e desmonte dos serviços públicos, e da universidade pública brasileira como um todo”, como afirmou a UEFS, mas, são as práticas desta e de outras instituições que, através da patrimonialização do setor público por servidores, promovem o atraso econômico, social e político do Brasil. Esta observação é mensurada em pesquisas quantitativas e qualitativas. O relatório do Banco Mundial é uma delas.

Neste contexto, verifica-se que o Estado Brasileiro paga elevados salários a um número reduzido de servidores, que retribuem com a baixa qualidade e produtividade no desempenho das funções. Este cenário é observado nos indicadores de desempenho das funções públicas exercidas no país e no cotidiano do cidadão que, atônito, verifica a forma desrespeitosa com a qual é tratado nas distintas instituições de Estado. Em um quadro de anomia estatal severa. 

Aprimorar mecanismos de controle de produtividade e qualidade dos serviços executados por servidores e ampliar o número de servidores com remunerações justas e equilibradas, dentro da realidade política, economia e social do Brasil, é a obrigação que recai sobre a estrutura pública do país, para que a sociedade possa evoluir em níveis civilizatórios. Não compreender que isso é premente e, ou, atacar quem crítica não vai negar o fato em si, apenas demonstra o quanto as instituições de Estado, e isso inclui a UEFS, precisam passar por intensa e severa revisão.

Para além disto, as instituições de Estado precisam da aprovação e aceitação da população para continuar recebendo recursos e, com eles, desenvolver as atividades fins. Cabe à imprensa, dentre outros, questionar e verificar como agem. 

Por fim, acreditar que veículo de imprensa é para reproduzir o discurso oficial revela incompreensão sobre o que representa a atuação do jornalismo em uma sociedade democrática. Erro comum entre pessoas dotadas de pensamento vulgar e instituições que se encontram em processos primitivos de desenvolvimento. 

Scientia liberat (o conhecimento liberta).

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Sobre Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia 10783 artigos
Carlos Augusto é Mestre em Ciências Sociais, na área de concentração da cultura, desigualdades e desenvolvimento, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Ensino Superior da Cidade de Feira de Santana (FAESF/UNEF) e Ex-aluno Especial do Programa de Doutorado em Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como jornalista e cientista social, é filiado à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ, Reg. Nº 14.405), Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ, Reg. Nº 4.518) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI Bahia), dirige e edita o Jornal Grande Bahia (JGB), além de atuar como venerável mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Maçônica ∴ Cavaleiros de York.