Da Praia de Pajussara ao banho no Rio Ganges

Juarez Duarte Bomfim.
Juarez Duarte Bomfim.
Juarez Duarte Bomfim.
Juarez Duarte Bomfim.

Aqueles jovens rapazes indianos se amontoaram para contemplar o banho sensual de uma só brasileira… Tinham olhares para uma só brasileira… (Obs.: esta é uma crônica literária, qualquer semelhança com pessoas ou situações existentes é mera coincidência).

Depois de 20 dias dentro do Ashram (mosteiro) indiano, passados em meditação e contemplação mística, saímos em excursão turística pelo norte da Índia. Éramos um grupo de 23 pessoas, apenas sete homens.

O período passado entre orações e cânticos era de total separação por gênero, e o vestuário feminino – uma profusão de sáris e punjabis coloridos – não permitia antever um palmo sequer de corpo feminino.

Qual não foi a surpresa ao, logo na chegada a Nova Delhi, formosa nordestina do grupo de excursionistas brasileiros, insinuante na sua indumentária provocativa, coladinha ao corpo, passear rebolante sob os olhares admirados dos mancebos do grupo… Dessa maneira, fomos reintroduzidos ao pecado dos pensamentos luxuriosos.

Ao vê-la passar, rebolativa, poderia cantarolar como o poetinha carioca; “olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é essa menina, que vem e que passa, num doce balanço, a caminho do mar…”

Todavia, o que me vinha à memória eram os cantares do sábio Rei Salomão: “eu te comparo, oh mulher, as éguas dos carros do Faraó” (Cantares 1:9), talvez devido a visão traseira de voluptuosa dama.

Apesar de entrada em idades, Lindaura Maria – este o seu nome – conservava o frescor da juventude. Por ser alagoana lembrava imediatamente um outro doce pecado da Praia de Pajussara, bela senhora que abalou os alicerces de combalida República, num imbróglio familiar de paixões, ciúmes e canalhices de líder político caído em desgraça, acusado de dar em cima da própria cunhada.

Bem… o trem de turistas da terra de Pindorama partiu de Nova Delhi a caminho de Haridwar (Norte da Índia) para a maior das aventuras desta movimentada excursão: íamos em direção a Rishikeshi, margens do Rio Ganges, o lugar mais louco do Planeta que conheci até agora.

Chegamos a Rishikeshi após um tour por montanhas e florestas. Sim, existem florestas na Índia, apesar dos seus mais de um 1,2 bilhões de habitantes. Florestas povoadas de macacos, assim como as ruas das grandes metrópoles. A Índia surpreende…

Era o dia da graça de 15 de julho de 2009, início das comemorações ao deus Shiva, no rio Ganges, num festival que duraria um mês inteiro e só acontece a cada seis anos.

De diversas partes da Índia grupos de homens e raríssimas mulheres saiam em peregrinação à cidade sagrada de Rishikeshi, geralmente a pé, trajando sumário vestuário de cor laranja e carregando aos ombros oferendas à divindade. Ainda na saída da cidade de Nova Delhi encontramos à beira da estrada numerosos grupos de peregrinos, que tardariam uma semana ou mais de deslocamento ao recanto místico.

Já na surpreendente cidade de Rishikeshi, saímos a passeio pelas ruas que margeiam o Ganges, cruzamos o rio de barco e, ao entardecer, participamos de majestoso ritual denominado Ganga Arathi.

O Arathi é um ritual hindu de queima de cânfora, diante de uma imagem divina, acompanhado de cantos sagrados, os bajhans. Como o próprio rio Ganges é considerado sagrado, a imagem divina ali se manifesta.

Todavia, neste ano de 2009, gigantesca e bela estátua do deus Shiva foi inaugurada sobre uma passarela nas correntezas do Ganges, enriquecendo ainda mais o esplendoroso ritual.

Chamava a atenção durante os breves dias que passamos naquela intrigante cidade, o vai-e-vem dos devotos peregrinos da localidade. Aqueles grupos de jovens rapazes passavam os dias pra lá e pra cá, se banhando no Ganges e em brincadeiras juvenis.

Os que tinham algumas rupias (moeda indiana) se alimentavam nas muitas barraquinhas de comida montadas para tal fim. Os que aparentavam total carência, o que comiam? Defecavam e urinavam em qualquer lugar onde surgisse a necessidade; dormiam ao relento, no lugar onde a noite os alcançava.

Sociologicamente, me indagava: quem são eles? Têm famílias? Alguma atividade de trabalho? De estudo? De qual região da Índia se deslocaram? Alguns que tentavam travar diálogo com este que vos escreve eram impedidos pela intransponível (infelizmente…) barreira lingüística.

Ah e não podemos esquecer de um peculiar componente da paisagem indiana: os sadhus, com suas pinturas exóticas, suas vestes simples, suas figuras extravagantes. Frente a um sadhu nunca sabemos se estamos em face de um santo ou um mero vagabundo. O forte olor de cannabis indica denunciava a pouca santidade de alguns.

O purificador banho dos excursionistas nas águas geladas do Ganges ficou para a manhã do dia seguinte, e foi aí que tudo aconteceu…

Numerosa platéia se reuniu para observar o banho das brasileiras… Não. Aqueles jovens rapazes se amontoaram para contemplar o banho sensual de uma só brasileira… Tinham olhares para uma só brasileira: a nossa heroína, Lindaura Maria.

Continuamos…

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Sobre Juarez Duarte Bomfim 726 artigos
Baiano de Salvador, Juarez Duarte Bomfim é sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Tem trabalhos publicados no campo da Sociologia, Ciência Política, Teoria das Organizações e Geografia Humana. Diversas outras publicações também sobre religiosidade e espiritualidade. Suas aventuras poético-literárias são divulgadas no Blog abrigado no Jornal Grande Bahia. E-mail para contato: juarezbomfim@uol.com.br.

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